IA x Escrita Humanizada: Quais as principais diferenças e qual é a melhor opção?

Laíze Damasceno

Laíze Damasceno

fundadora da contehuma_

O uso abrangente e contínuo das ferramentas de Inteligência Artificial (IA) tem gerado polêmicas e discussões entre profissionais produtores de conteúdo e escritores. 

Em meio a tantos questionamentos, se faz necessária uma compreensão mais profunda das características e impactos das duas modalidades para promover o discernimento e a educação do mercado. 

Segundo dados da pesquisa Traffic Analytics, divulgada pela Semrush, as plataformas de inteligência artificial da OpenAI (como ChatGPT) tiveram 2,4 bilhões de acessos em todo o mundo, somente em janeiro de 2024. No Brasil, os acessos chegaram a 123 milhões no mesmo período.

Os dados são relevantes e comprovam a tendência de expansão e desenvolvimento destas tecnologias.

Hoje, muitos acreditam que a IA pode oferecer benefícios para os escritores como a economia de tempo e o aumento da produtividade. E outros acreditam que em breve as ferramentas poderão substituir o papel do ser humano na escrita. 

O objetivo deste artigo é descrever as características destas duas formas de produção de conteúdo, entendendo suas diferenças e os seus impactos.

Como as ferramentas de IA produzem conteúdos?

As tecnologias de Inteligência Artificial são criadas através de um processo chamado “machine learning”, que pode ser traduzido como aprendizado de máquina. Ele consiste na transmissão de conhecimentos através do fornecimento de uma base de dados.

A partir das informações fornecidas o algoritmo se torna capaz de identificar padrões, usos e adequações de palavras a diferentes contextos, aplicação de estruturas e regras gramaticais, destacar informações relevantes, entre outras habilidades.

Por exemplo: para o treinamento de um corretor automático são fornecidos exemplos de textos com erros comuns de ortografia e gramática, juntamente com as correções correspondentes. O algoritmo aprende a identificar padrões nos erros e a aplicar as correções apropriadas. 


Assim, quando um usuário digita um texto e aciona a verificação ortográfica e gramatical, o algoritmo pode detectar automaticamente os erros e sugerir correções adequadas, ajudando a melhorar a precisão gramatical do texto em apenas segundos.

Imagem: frimufilms | Freepik

A aprendizagem e a precisão da IA estão diretamente relacionadas à base de dados à qual ela foi exposta. Ou seja, existe o acesso da tecnologia a um acervo amplo, como à internet, mas sem um crivo crítico de veracidade ou qualidade. 

Essa característica fundamental de como o AI opera também mostra um dos principais pontos de diferenciação em relação à escrita humanizada: a criatividade. Enquanto a primeira está condicionada ao fornecimento e captação de dados, a segunda tem o arsenal infinito de criação da mente humana.

Quais são as principais diferenças entre a IA e a Escrita Humanizada?

A escrita é uma forma de arte e comunicação que compõe a essência humana. 

Há eras, as palavras têm sido usadas para expressar ideias, contar histórias e conectar pessoas. No entanto, com os avanços tecnológicos, a inteligência artificial emergiu como uma ferramenta de impacto potencialmente relevante para a produção de conteúdo.

Essas são as principais diferenças entre a IA e a escrita humanizada:

  1. O toque humano

Historicamente, o fator humano está no cerne da escrita. Desde a sua origem, as pessoas são parte fundamental da comunicação e transmissão de informações.

Tanto a linguagem como as reformas gramaticais acompanham o avanço da sociedade, como por exemplo, através do uso ou desuso de determinadas palavras ao longo do tempo (a palavra “você” deriva da palavra “vosmecê”).

Esse dinamismo está presente também nos textos escritos. Textos são formas de compartilhar e inspirar experiências, emoções e perspectivas pessoais. E quem os escreve é capaz de transmitir sensibilidade aplicada a suas palavras, criando uma conexão íntima com os leitores.

Cada frase e cada escolha de sentenças traz a essência do autor, resultando em uma experiência de leitura rica, autêntica e bem particular. 

Imagem: Designed by Freepik

Já a escrita produzida pela Inteligência Artificial, tem como referência dados que compõem a sua base e que, por mais que possam falar sobre características subjetivas do ser humano, como sentimentos, são incapazes de senti-las e, por consequência, transmiti-las.

Os textos tendem a ser superficiais, sem nuances e profundidade contextual, não sendo capazes de despertar no leitor emoções ou mostrar a personalidade de um escritor. 

  1. Criatividade e originalidade

A criatividade é um dos aspectos mais fundamentais da escrita humanizada.

Os escritores têm a habilidade de explorar suas imaginações, criando mundos, personagens e enredos que cativam e envolvem. A originalidade surge da expressão particular dos escritores, permitindo que suas ideias ganhem vida.

O storytelling é um exemplo da aplicação da criatividade e originalidade na produção de conteúdos. A partir da compreensão do objetivo do texto, o escritor cria uma linha narrativa capaz de alcançar e encantar o público desejado, utilizando de estilos e técnicas que melhor se adequam ao contexto.

Desde reviravoltas inesperadas até metáforas inventivas, o storytelling oferece um terreno fértil para a expressão da originalidade da mente humana.

Por outro lado, a IA enfrenta limitações nesse aspecto. Embora possa gerar conteúdo com base em dados existentes, sua capacidade de pensar de forma criativa é limitada pela sua programação e algoritmos pré-determinados.

Em outras palavras, a IA não tem imaginação. Logo, não consegue criar algo que fuja das referências provenientes de sua base de dados. 

Para marcas e produtores de conteúdo, isso quer dizer que, ao optar pelo IA, estes perdem a oportunidade de se tornarem vanguardistas em um tema ou referências em um campo de atuação, já que não há originalidade e real valor no que é produzido. 

  1. Tom de voz

Personalidade é um traço que se manifesta pelo comportamento, estilo e preferências, e que pode ser manifestado através dos textos pelo tom de voz utilizado.

E, assim como as personalidades são únicas, a sua expressão nos textos também é.

Ajustar o tom de voz é uma habilidade refinada dos escritores. Apenas os humanos têm a capacidade de adaptar a sua linguagem para ser melhor compreendido, e de transmitir emoções, sutileza e mesmo gentileza através das palavras.

Imagem: Designed by Freepik

Esse ajuste fino é essencial para estabelecer uma conexão significativa com quem lê. E é também uma forma de ser fiel à personalidade e originalidade de quem escreve. 

A IA enfrenta desafios na adaptação de tom de voz. Embora possa imitar estilos de escrita pré-existentes, ainda existe a falta da capacidade de compreender plenamente a complexidade da linguagem humana e ajustar-se de acordo. Comandos para que a escrita seja mais ou menos formal, mais ou menos alegre, ainda não reproduzem fielmente o tom de voz de forma natural ao longo do texto, e essa artificialidade é facilmente detectada pelo leitor. 

Mesmo que lhe seja fornecido um texto como referência, o volume de informações necessárias para que a ferramenta compreenda e reproduza o padrão apresentado é muito alto e inviabiliza a adequação de tom de voz pela IA a casos específicos.

  1. Conexão emocional

A escrita humanizada é capaz de criar conexões reais. Escritores tocam corações e despertam sentimentos, e essa conexão emocional é estimulada pela empatia, por experiências compartilhadas e identificações geradas no texto. 

Estabelecer conexões vai além do uso das palavras.

Trata-se de conduzir o leitor a sentir e criar associações, tocar em pontos sensíveis e inspirar mudanças. Podemos dizer que a conexão gerada acontece por meio do que está nas entrelinhas do texto, na seleção do que dizer e como dizer, e das reações que o escritor quer despertar em quem lê. 

Em contrapartida, a IA possui dificuldades em estabelecer conexões emocionais genuínas. Embora possa gerar textos que pareçam convincentes, falta-lhe a verdadeira compreensão das nuances que permeiam a experiência humana. E é a partir do que temos em comum, experiências, histórias e emoções, que nos conectamos. 

Em resumo, por mais que a IA continue a avançar, a combinação do toque humano, criatividade e da habilidade em despertar emoções é incomparável, e tornam a escrita humanizada um diferencial que a tecnologia não consegue reproduzir.

Qual é a melhor: Inteligência Artificial ou Escrita Humanizada?

É indiscutível que a IA não consegue substituir a escrita humanizada. 

Já vimos que a escrita humanizada é capaz de transmitir qualidades subjetivas do ser humano e criar conexões reais através de conteúdos autênticos e cheios de personalidade.

Enquanto que a Inteligência Artificial parte de uma base de dados abrangente, sem um critério apurado de qualidade e veracidade das informações. Além das limitações de originalidade, que podem fazer do seu conteúdo uma mera repetição do que está amplamente publicado nas redes.

Imagem: fancycrave1 | Pixabay

Com todas as limitações fundamentais que o AI possui para a produção de um conteúdo de qualidade, a questão principal é: 

Vale a pena utilizar recursos que demandam grande intervenção humana e uma revisão detalhada do que foi produzido, para que o texto possa atingir o seu objetivo primário que é engajar pessoas?

A IA e a escrita humanizada ocupam espaços diferentes em termos de objetivos. 

Utilizar ferramentas que chegam apenas à superficialidade do que é necessário para a interação humana é contraintuitivo. Atualmente, compreendendo essa limitação, produtores de conteúdo têm usado as ferramentas para tarefas auxiliares como para a revisão gramatical, geração de títulos ou para a pesquisa prévia de um assunto. 

De toda forma, caso o IA ainda seja a opção em mente para a sua equipe na produção de conteúdo, faça uma reflexão crítica sobre a abordagem. Analise se as ferramentas usadas conseguem contribuir efetivamente para os textos da sua marca, e sempre tenha em mente o que torna o seu conteúdo único. 

Faça perguntas como estas antes de publicar um texto, para garantir que o resultado atinja o propósito da existência de um conteúdo: 

  • Este conteúdo transmite personalidade e autenticidade? 
  • As palavras utilizadas estão adequadas ao meu público e objetivos?
  • O texto possui nuances e profundidade que adiciona valor a quem lê? 
  • Ele é capaz de despertar emoções, gerar curiosidade ou deixar um aprendizado significativo? 
  • Ou ele é apenas uma sequência de palavras que reproduzem informações encontradas online?  

Como saber se um conteúdo é humanizado ou produzido por Inteligência Artificial?

A escrita humana pode ser confundida com IA, especialmente quando se trata de textos curtos e simples. 

As tecnologias de IA estão se tornando cada vez mais avançadas em replicar a linguagem humana. 

No entanto, a escrita humana ainda se destaca, principalmente em textos mais complexos ou criativos, e geralmente contém mais linguagem descritiva e figurativa do que a escrita de IA. 

Para evitar serem confundidos com a IA, os produtores de conteúdo e escritores devem usar sua voz e perspectiva únicas para discorrer sobre um assunto e evitar frases genéricas ou repetitivas, características das ferramentas atuais de inteligência artificial.  

Essas são as características que estão presentes de forma recorrentes nos conteúdos AI e que podem ser usadas como base para a sua identificação:

  1. Padrões de repetição

As ferramentas AI podem gerar textos com padrões de repetição que soam artificiais ou fora de contexto. Isso inclui a repetição frequente de frases semelhantes ou a reutilização excessiva de palavras-chave. 

  1. Erros sutis

É comum que a IA ainda cometa erros sutis de gramática, coesão ou coerência. Esses erros podem ser mais evidentes em textos complexos ou em contextos específicos. Sendo assim, ainda se faz necessária a revisão humana e a checagem de fatos e dados para que o texto garanta a sua credibilidade e, por consequência, a da empresa que a compartilha. 

Imagem: frimufilms | Freepik

  1. Conteúdo genérico

Textos gerados por IA podem parecer genéricos ou carentes de insights originais, especialmente em assuntos populares, complexos ou especializados. Isso ocorre porque a IA é baseada em dados disponíveis online e não possui compreensão real sobre um determinado assunto. Sua função se limita a apenas replicar dados, processá-los de forma a gerar informações, que são compartilhadas de forma neutra e sem profundidade ou posicionamento. 

Procurar pela opinião do autor ou por conexões mais complexas sobre um pensamento é uma forma de identificar a escrita humana. 

  1. Lacunas de contexto

Em alguns casos, textos gerados por IA podem apresentar lacunas de contexto ou informações inconsistentes dependendo da complexidade do assunto. 

Observações subjetivas que só o ser humano é capaz de captar ao absorver o que acontece no ambiente ao seu redor são deixadas de lado. Conexões entre histórias diferentes, referências populares e o que acontece agora nas redes sociais são excluídas da sua base de escrita e, como consequência, exclui a riqueza de movimentos e conversas que deveriam existir e ser replicadas. Especialmente se a empresa possui valores afins e quer ser parte de um grupo ou agente ativo da sociedade. 

  1. Sonoridade e subjetividade 

A escrita artificial é treinada para manter um tom neutro e é formada a partir de blocos estruturais de informações. Como a ferramenta é aprimorada com base na identificação de padrões, a sua escrita tende a replicá-los. A sonoridade encontrada pela escolha intencional de palavras e pela afinação e expertise do escritor não são encontrados nos textos gerados por inteligência artificial. 

Nós humanos tendemos a ter mudanças repentinas na forma de nos expressarmos, adicionando complexidade e ritmo que variam de um parágrafo para o próximo. A imperfeição e inconsistência humanas são refletidos em seus textos. E são essas características que tornam os textos interessantes, emocionantes, e nos prendem mais a atenção do começo ao fim.  

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Conclusão

Escrever conteúdos é mais do que organizar pensamentos em um texto. 

É a capacidade de transmitir emoções e sensações, é a habilidade de escolher histórias, exemplos, contextos que se encaixam de forma mais adequada a um público, seja com o objetivo de entreter ou ensinar. É a capacidade de imprimir a personalidade do escritor ou a de replicar a da sua marca em cada trecho.

Isso é a escrita humanizada. Feita por pessoas e para as pessoas, com o objetivo de criar conexões reais, e não apenas compartilhar fatos. 

Imagem: shurkin_son | Freepik

Por isso, vale a pena refletir até que ponto vale o risco de utilizar ferramentas que oferecem combinações diferentes de uma mesma base de dados em detrimento de explorar a criatividade e originalidade humanas para criar conteúdos autênticos.

Não se esqueça: Quanto menos humanizado o seu conteúdo for, mais parecido com a IA ele vai ser. Logo, mais difícil será o reconhecimento da sua marca como uma referência ou como única no mercado. 

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