Quase toda história se encaixa em uma dessas 6 narrativas básicas

Laíze Damasceno

Laíze Damasceno

fundadora da contehuma_

Existe uma diversidade de histórias contadas até o dia de hoje através de conteúdos online, livros, séries e filmes. Mas será que todas elas seguem uma construção original de narrativa?

Pesquisadores, como Christopher Booker e Matthew Jockers, com essa pergunta em mente, analisaram dados de milhares de obras, estilos como romances, mitos antigos e contos populares, para entender sobre a existência de um padrão na construção das nossas histórias.

E chegaram à conclusão de que há sim padrões, e estes são chamados de narrativas base.

Isso não significa que todas as histórias sejam iguais. O resultado dessa pesquisa nos leva à conclusão de que é possível identificar seis perfis de condução de uma narrativa. Personagens, conflitos e dramas continuam sendo bem particulares de cada obra.

Conhecer estas estruturas e como desenvolvê-las é uma ótima maneira de aprimorar a escrita e contar histórias envolventes e memoráveis. 

Para quem é redator ou interessado em contar boas histórias, esse é um conhecimento que pode apoiá-lo nessa construção. 

Esse é um artigo que produzimos para que você possa aplicar na prática essas estruturas no seu próximo conteúdo.

E vamos começar entendendo um ponto importante.

Por que QUASE todas?

O ditado diz que para toda regra, existe uma exceção. E aqui não é diferente.

Os pesquisadores estudaram uma base robusta de textos para identificar a existência de 6 narrativas base. Mas este não é o único caminho a seguir na produção de um conteúdo.

Algumas histórias podem seguir uma estrutura narrativa diferente ou podem até mesmo desafiar as convenções tradicionais de narrativa (como obras experimentais e narrativas não lineares).

Além disso, a criatividade humana é ilimitada, e os escritores têm a liberdade de criar histórias únicas que podem não se conformar com nenhum padrão predefinido. 

Imagem: Designed by Freepik

Logo, não estamos falando de uma regra absoluta. 

Mas sim de uma estrutura de criação de conteúdos que já foi ratificada inúmeras vezes, por séculos, em diferentes estilos literários e cinematográficos (de “Romeu e Julieta” a “Procurando Nemo”).

Ou seja, são técnicas comprovadas e que podem levar sua escrita a outro nível.

Agora vamos aprender sobre as estruturas narrativas?

Arcos Narrativos: O que são e como contribuem para a evolução da história?

Arcos narrativos são estruturas que descrevem a evolução e o desenvolvimento dos personagens e enredos ao longo de uma história. Eles são essenciais para criar uma narrativa coesa e envolvente, permitindo que os escritores construam personagens cativantes e conduzam o público através de uma jornada emocional e intelectual.

Um arco narrativo geralmente segue uma trajetória que inclui os seguintes elementos:

  1. Introdução

É o estágio inicial da história, onde personagens, cenários e conflitos são apresentados ao público. Este é o momento em que os fundamentos da história são estabelecidos e os espectadores começam a se familiarizar com o mundo e os personagens. E é muitas vezes o momento de tomada de decisão seja do público ou de uma editora se aquela história é interessante e se vale a pena continuar engajando com ela ou não. 

  1. Conflito

Quando introduzido, o conflito gera tensão e desafios para os personagens. Pode ser um problema interno, como conflitos emocionais ou dilemas éticos, ou externo, como uma luta contra um vilão ou uma força da natureza.

Imagem: Designed by Freepik

  1. Desenvolvimento

Os personagens enfrentam desafios e crescem ao longo da história, assim como nós em nossas vidas pessoais. Personagens são reflexos de quem somos e, por isso, em suas jornadas tendem a aprender lições importantes, mudar perspectivas ou desenvolver novas habilidades à medida que lutam para superar um conflito e seguir em frente em suas vidas.

  1. Clímax

O clímax é o ponto culminante da história, onde o conflito atinge seu ponto mais alto e a tensão é maximizada. Este é muitas vezes o momento de maior drama e suspense, o momento mais difícil do herói, em que os destinos dos personagens estão em risco. 

Imagem: Missão Impossível 2 | Uol

Imagem: Indiana Jones – Os Caçadores da Arca Perdida | Folha

Imagem: Designed by Freepik

  1. Resolução

O desfecho da história é quando o conflito é finalmente resolvido e os personagens encontram uma conclusão satisfatória sobre as suas jornadas. Isso pode incluir a derrota de um vilão, a reconciliação em um relacionamento amoroso ou a realização de seus objetivos pessoais.

Arcos narrativos são estruturas marcantes e conhecidas que permitem que o leitor ou o espectador possa se relacionar com os personagens seja por afinidade ou curiosidade e, por isso, aumentam o engajamento de um determinado conteúdo. 

Criar narrativas é envolver alguém na realidade de um personagem ou do autor para que uma mensagem possa ser passada ou lições possam ser compreendidas. 

Para o criador, os arcos narrativos são um ponto de partida importante e trazem clareza para a escrita. 

Vamos começar com um exercício prático?

Imagem: rawpixel | Freepik

  1. Crie o arco narrativo de uma história qualquer que esteja na sua mente. Preencha com o máximo de detalhes cada um dos 5 elementos apresentados acima: introdução, conflito, desenvolvimento, clímax e resolução. 

Mesmo que neste momento você não tenha uma clareza aprofundada sobre o seu enredo, este é um ponto de partida base que te ajudará a passar ideias generalizadas para o papel e, ao longo do tempo, te apoiará na criação novas situações para a sua história. 

Pense e descreva cada elemento de forma individualizada. Depois da sessão a seguir, a conexão entre eles poderá ser construída. 

As 6 narrativas básicas

Há séculos, contar histórias tem sido uma forma de comunicar ideias, transmitir sabedoria entre gerações e gerar laços mais profundos entre membros de um grupo ou de uma comunidade. 

Por trás da diversidade de narrativas que encontramos ao longo da história, existem padrões que estão presentes em obras que marcaram o mundo.

Essas narrativas são estruturas recorrentes que permeiam uma ampla gama de obras, desde a literatura clássica até os blockbusters de Hollywood.

Conheça as 6 narrativas básicas:

  1. Ascenção

Também descrita como “da pobreza à fortuna” ou “de má a boa sorte”.

Nesta narrativa a jornada do protagonista vai de uma posição de insignificância, fraqueza ou obscuridade para um estado de poder, prestígio ou autoridade. 

Muitas vezes envolve enfrentar desafios, superar obstáculos e crescer como indivíduo para alcançar um status elevado ou uma posição de destaque na sociedade em que vive. 

Exemplos: O Patinho Feio, O Poderoso Chefão e Breaking Bad.

Créditos da Imagem: Wallpaper Abyss

Em Breaking Bad, a transformação de Walter de um pacato professor de química diagnosticado com câncer e desesperado em continuar provendo para a sua família em um poderoso traficante chamado Heisenberg é um exemplo renomado desse estilo de narrativa, que leva o personagem de uma posição de fraqueza a poder. 

  1. Declínio

Também chamada de “declínio de bom a mau” ou “uma tragédia”.

Descreve a trajetória do protagonista que vai de um estado de reconhecimento e poder, para uma posição de fraqueza, perda ou decadência. 

Geralmente, acontece através do declínio gradual das circunstâncias do protagonista, devido a uma série de eventos desfavoráveis, escolhas erradas ou conflitos internos que levam à sua queda. 

Exemplos: O Retrato de Dorian Gray, A Sociedade da Neve e Macbeth.

Créditos da Imagem: Netflix. 

Em Sociedade da Neve, a narrativa descreve de forma detalhada e envolvente o trágico acidente de avião uruguaio e a luta dos sobreviventes para escapar da região isolada dos Andes. 

  1. Ícaro

Conhecida como “ascensão e, depois, declínio da sorte”.

São relatos como no mito grego do filho do construtor Dédalo, que recebeu asas de penas para voar mas, ao se aproximar demais do sol, derreteu a cera que as mantinha presas, precipitando-se no vazio. 

São histórias de ambição social, de sucesso meteórico e de consequências para aqueles que tentam ir além de seus limites. Muitas vezes, Ícaro é retratado como um exemplo moral, onde a busca por poder leva à perda de integridade e virtude, resultando em um castigo merecido que restaura a ordem natural das coisas. Servem como uma lição de humildade.

Exemplos: O Lobo de Wall Street, O Grande Gatsby e Scarface.

Créditos da Imagem: Netflix. 

Grande Gatsby narra a história de um garoto de origem humilde que, apesar da sua grande riqueza, se vê em função de entreter a alta sociedade em Long Island. Na tentativa de pertencer a uma sociedade distinta daqueles que nasceram ricos e de ganhar o amor de uma mulher de uma família bem estabelecida, o protagonista entra em declínio que o leva ao fim à sua morte. 

  1. Édipo

Chamada de “declínio, ascensão e declínio de novo”.

A história de Édipo, um herói da mitologia grega, é marcada pela profecia de que ao longo de sua jornada ele eventualmente mataria seu pai e se casaria com sua mãe. 

Procurando evitar o seu destino, Édipo deixa a sua cidade e segue em outra direção. A história evolui para a eventual vitória sob um monstro, que o levou a conquistar o trono do rei anterior que estava morto. 

A profecia então se realiza, já que a viúva do rei no fim era a sua própria mãe.  

Ao descobrir, ele fura seus próprios olhos em desespero e é banido da cidade, marcando seu segundo declínio na história.

Essa narrativa destaca as complexidades do destino, da tragédia e das consequências inevitáveis dos atos humanos, revelando a natureza implacável do destino e a fragilidade da condição humana.

Exemplos: Chinatown, O Sexto Sentido e Por Trás de Seus Olhos.

Créditos da Imagem: Uol

  1. Cinderela

Direcionada pela “ascensão, queda, ascensão”.

A narrativa apresenta um protagonista inicialmente desfavorecido, que enfrenta adversidades e experimenta uma breve ascensão após encontrar uma oportunidade ou encontro transformador.

No entanto, essa ascensão é seguida por uma segunda queda, onde enfrenta desafios adicionais e retorna à sua situação original ou pior. O clímax da história ocorre quando o protagonista supera suas adversidades finais e alcança uma ascensão definitiva, encontrando felicidade, realização ou redenção. 

Exemplos: Uma Linda Mulher, Jogos Vorazes  Um Lugar Chamado Notting Hill e Quem Quer Ser Um Milionário?

Imagem: Um Lugar Chamado Notting Hill | Célula Pop

Imagem: Um Lugar Chamado Notting Hill | Blog Manias de Maria

“Um Lugar Chamado Notting Hill” narra a história do encontro improvável entre Will Thacker, um tímido dono de uma pequena livraria em Londres, e Anna Scott, uma famosa atriz de Hollywood. Suas vidas se encontram quando Anna entra na livraria de Will e, apesar das diferenças de status social, eles iniciam um relacionamento. No entanto, o romance é desafiado pela intrusão da mídia e pelas complexidades da vida de uma celebridade. Conforme lidam com esses obstáculos, Will e Anna descobrem que o verdadeiro amor supera as barreiras sociais e encontram uma maneira de se reconectar em um nível mais profundo, levando a um relacionamento lindo e cativante.

  1. Homem no buraco

Também conhecida como “queda, ascensão”.

É centrada em um personagem que enfrenta uma queda inicial ou desafio significativo, seguido por uma jornada de superação e ascensão. Inicialmente, o protagonista se encontra em uma situação de dificuldade, crise ou adversidade, representada metaforicamente pelo “buraco”. 

A ascensão ocorre quando o protagonista encontra uma maneira de superar seus obstáculos, muitas vezes através de sua própria determinação, aprendizado ou ajuda externa.

Exemplos: Em Busca da Felicidade, Beleza Oculta e Náufrago.

Imagem: Créditos SPDM

Em Busca da Felicidade: A história real de Chris Gardner, que por meio de sua grande persistência e vontade de dar ao filho uma vida melhor, passou de mendigo, a milionário.

De volta ao exercício prático:

Conhecendo as 6 narrativas base, nessa segunda parte do exercício o objetivo é amarrar a sua história do começo ao fim:

  1.  Analise o seu arco narrativo, agora definindo qual das narrativas base melhor transmite a essência dos personagens, conflitos da sua história original
  1. Crie um roteiro inicial, organizando e conectando a sequência dos fatos de acordo com a estrutura de narrativa escolhida.
  1. Feito isso, você está pronto para desenvolver uma história do início ao fim, trazendo à partir daí mais elementos e detalhes para enriquecer a narrativa.

Como envolver e cativar os leitores com o seu conteúdo

Depois de todas as informações sobre arcos narrativos e as narrativas base, você já está apto a produzir excelentes conteúdos. Mas, elencamos mais 5 dicas que vão te lembrar de estruturas importantes:

  1. Inicie com uma boa isca 

Seja produzindo um conteúdo para internet ou um livro, inicie o seu texto instigando o seu leitor, seja pela expectativa, mistério, dúvida ou curiosidade. As primeiras frases são essenciais e costumam ser determinantes quanto a escolha de seguir a leitura adiante.

  1. Não se perca no seu próprio enredo

Histórias são um mundo de possibilidades, por isso, tenha sempre em mente qual é a essência do seu texto. Às vezes, uma situação paralela à central pode se desenvolver mais do que o necessário e distanciar o leitor da narrativa original. 

Por isso, é importante executar as atividades propostas neste artigo, para ter uma espinha dorsal de apoio e direcionamento durante todo o seu processo de escrita.

  1. Sempre revise o seu conteúdo

Criar não é um processo linear, por isso, revise o seu texto e altere os pontos que deixaram de fazer sentido à medida que o conteúdo foi tomando corpo. 

Não é à toa que o texto inicial é chamado de esboço.

Imagem: drobotdean | Freepik

  1. Não jogue ideias fora

Muitas vezes, uma parte da história deixa de fazer sentido em um contexto, mas pode gerar novos conteúdos fantásticos. Tenha um caderno ou bloco de notas para anotar novas ideias e aplicá-las em outra ocasião ou momento da história.

Talvez para que a ideia se torne icônica ela só precise ser aplicada com uma narrativa base diferente. Testar diferentes formatos e tempos ao longo da narrativa, pode ser a virada de chave para uma história, por isso, não descarte nada e arquive tudo. 

  1. Use as 6 narrativas base sem medo

A ideia da existência de um modelo padrão gera resistência para muitos produtores de conteúdo e escritores que querem manter a originalidade e uma abordagem genuína. Entretanto, essas abordagens não precisam ser conflitantes. 

Modelos podem ser usados como direcionamentos e um ponto inicial de partida e eles não precisam privar e nem restringir a criatividade e a fluidez da escrita.  Tenha-os como aliados no processo (muitas vezes difícil) de trazer as ideias para a realidade. 

Conclusão

Vimos neste artigo que existem direcionamentos de construção de conteúdos que já foram testados e aprovados durante séculos, nos mais diversos contextos, que são chamados de narrativas base.

Durante o processo de escrita, ter um suporte quanto aos pontos essenciais da história pode ser o fator decisivo para a produção de um texto que cative os leitores. Seja no cinema, em materiais didáticos, ou em conteúdos para as redes sociais, ter clareza do seu enredo eleva (e muito) a qualidade do que você produz.

As 6 narrativas base, juntamente com os arcos narrativos, são estruturas que você pode aplicar de forma prática para apoiar no processo de produção de conteúdos que saem do senso comum e que podem se destacar em meio a um mar de textos sem alma. 

Aplique os exercícios e descubra o impacto que uma boa história pode ter no seu conteúdo digital. 

Saiba mais sobre o tema ou sobre os nossos cases, conte com a contehuma_. 

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